Outrora Ateliê

Lembro até hoje do momento em que me senti empolgada e animada com a ideia, pronta para colocá-la em prática. Essa vontade, como já disse, estava ali havia anos, mas obviamente houve uma virada de chave para que eu finalmente colocasse essa meta em ação.

Confesso que imaginei a apresentação do Outrora literalmente como uma cena de início de série. Com luzes , câmera e ação incluidos. Vergonhoso? Muito. Mas quem nunca, né?

Lembro que estava subindo as escadas para chegar ao meu apartamento. E não sei por quê, mas começou a tocar na minha mente a música “No”, da Meghan Trainor. Acho que, de certa forma, quando ouvi essa música pela primeira vez, me senti determinada a fazer algo — e, naquele dia, minha memória retomou exatamente essa sensação. Ousada, obstinada.

Senti algo dentro de mim como se tivesse voltado aos anos 2000. Me desculpem, caros leitores, mas precisamos admitir: essa foi a melhor época de se viver. (Quando digo isso, me sinto uma idosa defendendo “a sua época” — e acho engraçado, porque, quando ouvia os mais velhos fazendo isso, sempre me perguntava se também seria assim… e cá estou eu, no mesmo lugar. Mas convenhamos, leitores, era a melhor época. E ponto.)

Talvez, mais do que nostalgia, tenha sido uma tentativa de resgatar algo que estava adormecido, e que foi tão ativo naquela época: minha criatividade, meus sonhos, minha determinação… e minha cara de pau também.

Não sei explicar exatamente, mas algo dentro de mim começou a renascer. Aquele sentimento me levou de volta aos filmes daquela década. E, ao lembrar deles, automaticamente pensei nas protagonistas que eu amava. A maioria, claro, era de romances clichês — mas percebi que, mais do que as cenas bobas e o sonho de encontrar o par perfeito, o que eu admirava mesmo era outra coisa nas personagens principais.

A gente tem essa ilusão de que filmes e livros são perfeitos, que tudo dá ironicamente certo. Mas o que muitas vezes passa despercebido são os perrengues e os sufocos que toda protagonista precisa enfrentar até que, enfim, as coisas comecem a funcionar. Porque, afinal, todo sucesso tem seu drama, e se tudo desse certo o tempo todo, que história haveria para contar?

E foi ao pensar nesses sufocos que percebi o que mais admirava: a resiliência. A força de seguir em frente. E, acima de tudo, a determinação de saber o que se quer e correr atrás, mesmo entre altos e baixos. Aquelas protagonistas sabiam o que queriam da vida. E isso me marcou. Acho que quis resgatar essa sensação: o impacto de reconhecer meu valor. De me inspirar nessa coragem silenciosa, algo que está presente em muitas das heroínas das comédias românticas que cresci assistindo.

Admirava a garra, a busca por independência, aquele processo bonito (e confuso, até mesmo cômico) de se entender e de ir atrás dos próprios sonhos.

Desde pequena, principalmente quando assistia a esse tipo de filme, eu me imaginava como uma mulher fodona, independente, dona da própria marca. Mas mais que isso: eu queria ser a protagonista que corre atrás dos seus sonhos, por mais tolos que pareçam aos olhos dos outros. E é exatamente isso que eu sinto quando penso no Outrora: um resgate de um sonho. Porque, dentro de cada clichê, existe essa narrativa: a de que os sonhos não são exclusividade da infância ou da adolescência. E que, muitas vezes, à medida que crescemos, vamos esquecendo disso…

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