Ousadia e determinação.
São duas palavras que me vêm automaticamente à mente quando penso no Outrora. Acho que, de alguma forma, ele me remete à Evelyn do passado — aquela sonhadora, determinada, cheia de esperança, que acreditava que, de algum jeito, um sonho “bobo” poderia se tornar realidade. E talvez, com o tempo, eu tenha descoberto que esse sonho nem era tão bobo assim.
Quando penso no Outrora, associo-o diretamente à minha trajetória com a escrita — a esse processo de me tornar escritora, mesmo sem ainda me considerar, de fato, uma. Digo isso porque, por muito tempo, acreditei que ser escritora era sinônimo de ter um best-seller, uma história digna de Oscar, algo memorável. Mas, com os anos, e ao começar a escrever sobre minhas próprias vivências, percebi que talvez eu nunca escreva um best-seller… mas sou, sim, a escritora da minha vida, da minha história. E, para mim, ela tem um valor único. Acreditem: demorou muito para eu compreender isso.
Desde pequena, eu amava escrever. Uma vez escrevi:
“A vida como sabemos não é uma história de livro, onde até nessas histórias os personagens passam por problemas, então por que nós, meros mortais que vivem na realidade, não iríamos? Eu passei por muitos problemas, eu passei por momentos da minha vida que eu já pensei em desistir dela, eu passei por momentos que estar dentro da realidade era muito doloroso, era sufocador, era desesperador.
A escrita foi um escape disso tudo. Foi um modo que encontrei de me esconder dos meus problemas quando eles batiam na minha porta. Era uma maneira de conseguir viver quando eu simplesmente não queria mais. Muitas pessoas escrevem livros para contar histórias, eu escrevia para me imaginar dentro delas. Assim como ler. Ambas as situações eu ficava tão imersa dentro da irrealidade que por alguns breves momentos eu esquecia o que fazia doer dentro de mim, porque por alguns breves momentos eu acreditava que eu estava vivendo aquilo que estava lendo ou que estava escrevendo. Porque era aquilo que eu queria viver, era naquele lugar que eu queria estar.
(…) Então por isso pra mim, pensar em desistir dela (a escrita) sempre foi e é muito doloroso. Porque ela foi o meu porto seguro quando não tinha mais ninguém para ser, ela me abraçou quando não tinha nenhum abraço disponível, ela me acolheu em todos os momentos que chorava descontroladamente, ela me fez sorrir quando eu sentia que não tinha mais motivos para fazer isso, ela foi uma amiga a qual podia contar tudo o que estava sentindo quando eu não tinha ninguém para me escutar, ela me fez querer viver quando eu simplesmente tinha chutado o balde e tinha a certeza que iria partir. Como eu disse, ela me salvou.
Para aqueles que estão dispostos a ouvir, conto as minhas histórias com emoção, mesmo que elas não sejam grande coisa. Dou risada de cenas que nem são tão engraçadas. Fico revoltada ao lembrar-se de situações. Eu conto com tanta intensidade, com tanto significado por trás delas, porque isso faz parte de quem eu sou, e de certa forma, ao contar, ao lembrar, mesmo das coisas ruins, me faz ter orgulho, me faz rir, me faz me sentir importante por ter vivido isso. E estar aqui relatando tudo isso, estar escrevendo finalmente a minha história de verdade, é como se eu tivesse ganhado a loja de brinquedos novamente.”.
Como a vida não é um mar de rosas, escrever sempre foi como andar numa montanha-russa — cheia de altos e baixos. Quando mais jovem, vivi muitos altos: sempre inspirada, certa de que um dia teria um livro publicado. Mas, com o tempo, veio o amadurecimento, as obrigações… e os baixos começaram a pesar. Vieram os bloqueios criativos, as inseguranças, as dúvidas sobre se algum dia eu voltaria a escrever como antes.
Ainda assim, a sensação — ou talvez o desejo — de escrever nunca me abandonou. Sempre que passava dias sem escrever, ou sequer visitava aquele canto da mente onde histórias e cenários se formavam, sentia que algo me faltava. Como se uma parte de mim estivesse adormecida, esperando uma brecha para despertar.
E acredito que, inúmeras vezes, ela tentou. Criei blogs, páginas no Instagram, espaços para ter liberdade de escrever. E, apesar de quase sempre começar e não terminar, por mais que parecessem fracassos — e, de certa forma, foram — hoje vejo essas tentativas como fundamentais. Foram ensaios que me ajudaram a descobrir, pouco a pouco, quem eu queria ser. Moldaram minha escrita e, ao mesmo tempo, minha identidade.
Sempre que me sentia perdida, a escrita estava ali. Minha companheira fiel, ajudando-me a entender sentimentos que eu mesma não sabia nomear. É através dela que consigo me compreender — e, mais que isso, me expressar. Colocar no papel aquilo que não consigo dizer em voz alta.
Quando penso no Outrora, sinto que estou, finalmente, construindo um espaço onde posso trazer meus textos, minhas reflexões, minhas análises, minhas experiências, a minha história sem limitações. Um espaço para registrá-la, mesmo que em páginas longas. Quis trazer essa essência para a revista: um lugar que carrega o sentimento de “ser escritora”, porque, no fundo, é assim que me sinto.
O Outrora representa não só um espaço de expressão, mas um marco. E acredito que essa nova fase da minha vida transborda leveza, amadurecimento, criatividade… uma certa romantização da vida— não como fuga, mas como escolha consciente de enxergar beleza até nos dias mais banais. E, claro, como celebração do poder de escrever.
Como eu gostaria de ter uma câmera nos olhos… Às vezes, queria um gravador na mente. E, já que estamos sendo sinceros, vou confessar uma coisa — talvez um pouco vergonhosa, mas o propósito aqui é justamente esse, né? (Quer dizer, não passar vergonha… mas ser honesta.)
Mais do que escrever um best-seller, meu verdadeiro sonho sempre foi ver um livro meu virar série. Sim, eu sonhava alto — mas isso foi essencial no meu processo criativo. Lembro que, ao imaginar uma cena, eu parava tudo, encenava mentalmente, às vezes colocava uma música que combinava, e só depois começava a escrever o que tinha “vivido” na cabeça. Vergonhoso? Talvez. Aliás, quase certeza. Mas sei que você conversa sozinho/a, então… trocar seis por meia dúzia, né? (Você não me julga e eu não te julgo rs…).
Acho que isso acabou criando uma “voz narradora” dentro de mim. Uma voz que está sempre imaginando cenas, tecendo histórias que muitas vezes se perdem no tempo sem jamais ganharem forma. Mas essa voz ainda está lá. Às vezes, ela escapa para o meu cotidiano (e sim, é meio constrangedor) como se eu fosse uma personagem narrando em tempo real. Faço isso para não deixar o momento se perder. Ou para imaginar versões alternativas do que poderia ter acontecido. Coisas épicas que dariam ótimas cenas de livro. Ou apenas para tentar entender o que estou sentindo.
E, de alguma forma, essa voz está voltando.
Quando comecei a esboçar as ideias para o Outrora, senti que estava iniciando uma nova temporada da minha vida. Um novo livro, com novas aventuras. Era como o primeiro episódio de uma série, quando a protagonista está questionando tudo, desempregada, meio perdida… e, num dia qualquer, decide mudar tudo. Claro, não é fácil — mudar nunca é —, mas é sobre aquele momento em que você decide tentar. Se arriscar.
Acredito que o Outrora representa isso: uma nova tentativa, com garra e determinação. Precisei ouvir palavras duras para entender que, no fim, eu devo fazer as coisas por mim — e não para agradar os outros. Essa marca pode parecer boba para quem está de fora, irrelevante. Mas só eu sei as horas dedicadas, as ideias, a empolgação que sinto. E só isso deve importar.
Minha mãe sempre diz que eu tenho mania de começar frases com “se caso não der certo”, e afirma que só o fato de dizer isso já mostra que estou duvidando. Mas, pela primeira vez, trago um complemento novo: Se caso não der certo, pelo menos fiz algo por mim.
Fiz algo que eu queria, sem me importar com a opinião dos outros. Construir esse espaço me fez entender que esse projeto vale mais para mim do que para qualquer outra pessoa. E isso me fez perceber que a opinião que mais importa é a minha. Sou eu quem escolhe como quero viver. Então por que deixar que outros ditem o que devo fazer, quando só eu sei o que é melhor pra mim?
Hoje, entendo que prefiro tentar, por mim. Saber que, independente do resultado, foi algo que fiz com as minhas escolhas, pela minha vontade. E não carregar o arrependimento de quem nem sequer tentou, só porque alguém, que nem devia ter tanto peso na minha vida, disse que não valia a pena. E dito isso, cito o bom e velho ditado que minha mãe adora repetir: “Derrotado é quem não tenta.”
A vida é plena em você..tem garra…é protagonista da própria história…sabe por onde trilhar as ideias e as emoções…é artista em tempo integral..parabéns…te admiro muitooooooo..beijos 🥰🥰❤️❤️❤️❤️🩷🩷🩷